O evento aconteceu na noite desta sexta-feira (17) no Salão Nobre da Câmara Municipal.
Presidida por Luciano Diniz (PMDB) e secretariada por Marcel Silvano (PT), a Sessão Solene de lançamento do Relatório da Comissão da Verdade de Macaé foi marcada por lembranças dolorosas e pelo lema “Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça”. O evento aconteceu na noite desta sexta-feira (17), no Salão Nobre da Câmara Municipal. O texto, um livro de 193 páginas, reúne informações sobre a repressão praticada pelo regime militar, de 1964 a 1988.
O historiador Meynardo Rocha de Carvalho lembrou da empresa inglesa que instalou a estrada de ferro em Macaé no século 19. Ele disse que ocorreu uma exploração tipicamente capitalista sobre os ferroviários reunidos em torno de novos valores, inclusive, marxistas. Essa união dos trabalhadores, ao longo das décadas seguintes, foi vista pelas elites da época como ameaçadora, o que gerou tensões. Foi esse o contexto social que a ditadura encontrou em Macaé no dia 31 de março de 1964.
Luciano lembrou que a comissão é resultado de lei municipal aprovada em 2013, que por sua vez derivou da lei federal promulgada em 2012 por Dilma Rousseff. Ele convidou todos a uma salva de palmas, homenagem póstuma para a advogada Andréa Meirelles, que presidiu a comissão. “Hoje não é um dia de festa. Estão aqui presentes pessoas cujos parentes foram perseguidos. Houve quem morreu para que estivéssemos aqui. Também gostaria de lembrar que o presidente Eduardo Cardoso (PPS) deu todo o apoio necessário para os trabalhos da comissão”, frisou Luciano Diniz.
Elisabeth Azevedo, sobrinha de Cláudio Moacyr, que foi advogado de presos políticos, fez um emocionado relato sobre a atuação do tio. “É impressionante como hoje há pessoas que querem que aquele tempo retorne”. Valter Costa, que representou as famílias oprimidas pela Ditadura, afirmou: “Essa emoção se justifica porque no momento presente precisamos estar atentos para defendermos a democracia que está ameaçada no país”.
Ferroviários e intelectuais sob fuzis
“Quero saudar os macaenses que resistiram naquele período à união de uma elite empresarial com a classe média e interesses internacionais”, disse Marcel Silvano (PT), que relacionou o golpe de 1964 com a derrubada da ex-presidente. “Era doloroso estarmos, mais de 100 ferroviários, num campo de concentração infecto, com militares apontando fuzis”, contou Lauro Martins, ferroviário aposentado e presidente da comissão.
“Faltam ainda no relatório os registros do Exército, que negou-se a dar informações. Mesmo assim, este livro é História com H maiúscula. Queremos que ele chegue às escolas”, acrescentou. Durante sua fala, ele chegou a chorar lembrando das violências que sofreu e presenciou. Na sessão foram lembrados diversos nomes de pessoas que resistiram e sofreram violência, e dos vereadores que tiveram seus mandatos cassados durante a Ditadura Militar.
Ao final do evento, foram distribuídas cópias dos relatórios aos presentes. Segundo Luciano, exemplares serão enviados às escolas da cidade. Participaram da sessão também os vereadores Alan Mansur (PRB), Val Barbeiro (PHS), Welberth Rezende (PPS), José Queiroz do Santos Neto (PTC), o Neto Macaé, e Maxwell Vaz (SDD).
Jornalista: Marcello Riella Benites